Mário Pinheiro Mário Pinheiro - Templo Ideal

Olha estes céus, oh anjo, iluminados
De corações sofrentes e magoados
E o teu candor na tela célula a brilhar
Sob um trasflor de madrepérola
De versos consagrados
Com camafeus, opalas e turquesas
E as ametistas que tu exalas no falar
Com o éter da saudade
Eterno marmor do sofrer
Um templo ideal, eu vou te erguer!

A teus pés terás a
Hiperdulia da poesia
Ave-Maria dos meus ains!
Consagração do pranto
Deste santo coração
Virgíneo escrínio da ilusão

Oh, teus pés florei
Com os meus extremos!
Que são fluidos crisântemos
Deste amor com que te amei
Mandei a minha dor soluçar
Num resplendor de diademar!

Do coração de essências lacrimosas!
Que eu marchetei de rimas dolorosas!
Fiz um missal espiritual que adiamantei
Filigranei com os alvos lírios
Destas lágrimas saudosas
O teu altar num pedestal de mágoas
Eu fiz das águas do Jordão do meu penar
Tens uma grinalda em tua fronte constelei!

Versos passionais
Meigas violetas, borboletas!
Das ideias, orquídeas dos meus ains
Voai, saudosos, primorosos
Dolorosos beija-flores
Dos tristores que
Eu lhe fiz dos amargores
Doces hóstias multicores
E um turíbulo de dores
Cujo incenso é a inspiração!
Com amor e pura santidade
Guardo o culto da saudade
No meu coração

Eis o teu templo de auroras fulgores
Que eu perfumei só com o ideal das flores
Arcanjos de ouro tendo às mãos ebúrneas liras
E a teus pés cantando em coro
Sobre um trono de safiras!

Nos pedestais dos róseos alabastros
Verás dois astros: Tasso e dante, a soluçar!
Sobre o teu altar e debruçado em áurea cruz
Meu coração numa explosão de luz